Jó, um homem, uma lição



Jó, um homem, uma lição.
“Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1.1)
Introdução:
Temos em nossas mãos uma joia de estimado valor: O livro de Jó. É um livro poético, dramático, revelador e inspirador. Seu estilo literário é poético, com um tom biográfico. Este livro ganha destaque entre outros pela forma como a teologia primitiva ancestral é apresentada. Esta teologia primitiva apresenta Deus como um ser punitivo e recompensador. É um livro de grandes debates teológicos, e Jó por sua vez faz a sua abordagem subsequente firmado em sua experiência pessoal com Deus, e por razão do dialogo com o todo poderoso. Jó sem sombra de dúvidas desenvolve sua teologia a respeito de Deus pela prática baseada no diálogo e nos atos de Deus. Jó não é especulador, e nem teórico, ele ultrapassa o nível da teoria rasa e é levado ao nível da profundidade da verdade real e prática sobre Deus. Dito isto, não faremos especulações alguma a respeito do livro e do personagem em questão. Não faremos uma abordagem critica analítica, histórica ou técnica. Iremos apresentar os fatos como eles são. Lançaremos mão de uma das regras básicas e fundamentais da interpretação bíblica que é: A bíblia explica a própria Bíblia.
Pretendemos de forma simples, dentro de nossa limitação compartilhar de algumas verdades contidas no livro. Pretendemos com isso acrescentar valores à vida de cada um.
O nome de Jó é uma transliteração da palavra hebraica “Iyyôbh” ou “Iyov” que significa odiado ou perseguido. Jó viveu em um período anterior ao da monarquia de Israel, e por essa razão não há nenhuma menção de reis israelitas. Para muitos o livro de Jó é um folclore, um conto primitivo. Porém Jó é mencionado como pessoa pela boca do profeta Ezequiel (Ez 14.14,20) e por Tiago também (Tg 5.11) nenhum dos dois o vê como personagem folclórico, ou como parte de um conto. Jó é um patriarca, é um herói da fé, e por isso merece todo nosso respeito e admiração.
Como disse que o livro nos apresenta algumas verdades, então, a primeira verdade é: “Ninguém é tão bom que não precise ser melhorado”.
Para muitos o motivo da provação de Jó era: 1) Ele fazia parte de uma disputa entre Deus e o diabo. 2) Deus prova para aprovar depois.
Será mesmo?
Vamos mostrar pela palavra de Deus qual foi o real motivo. Lembrem-se: “A bíblia explica a própria bíblia”.
O começo do livro é interessante. Satanás aparece como um ser que não tem o que fazer. Ele está rodeando e passeando pela terra (1.7) de repente ele se apresenta diante da corte celestial; Deus então o indaga sobre sua ocupação, e é ai que o nome de Jó é mencionado por Deus (1.8) observe uma coisa, aqui há outra verdade: “Satanás vive em busca de nossos defeitos, enquanto que Deus conhece nossas virtudes”. Deus faz elogios, fala das virtudes de Jó. Satanás então faz acusações:
Ele acusa Jó de ser interesseiro; acusa Deus de comprar com presentes a fidelidade de Jó, e ainda diz que Jó blasfemaria se fosse retirado todo o cuidado dispensado sobre ele.
Por mais que o texto direcione para essa linha de pensamento de que Deus foi incitado por Satanás (2.3), ainda assim precisamos observar bem o texto e enxergar a dica apresentada: Foi Deus quem direcionou a conversa, foi Deus que mencionou Jó. Deus está no controle, Deus não é marionete, e nem é induzido a nada. (Tg 1.13)
Deus usa a psicologia reversa, uma forma de fazer com que o outro faça, sem que ela saiba que você quer.
Mais uma verdade: “Todos os atos de Deus são propositais”.
Deus tem um propósito, ele tem algo em mente, e no plano de Deus Jó é o alvo de seu propósito e o diabo é o instrumento (Não se assuste mais é verdade) No livro de 2crônicas 18. 19-21 Deus tem um plano de dar para o rei ímpio Acabe o que ele quer. Acabe não quer a verdade, ele quer ouvir a mentira, pois, a verdade ele conhecia, e baseado na verdade ele perderia. Então Deus lhe dá o que ele quer. Deus não mente (Nm 23.19) “Deus não é homem para que minta”, mas quando o homem não quer ouvir a verdade, então ele permite que falsos profetas falem.
O processo na vida de Jó tem inicio. Ele perde os bens, os filhos, ele perde tudo. Jó permanece fiel, firme e não blasfema. (1.21,22) “O Senhor deu e o Senhor tomou: Bendito seja o nome do Senhor”.
Jó permanece firme em seu propósito, ele continua adorando a Deus mesmo na dor. Jó era um homem de muitas virtudes. Estas virtudes foram mencionadas por Deus. O Senhor chega a dizer que não há na terra alguém semelhante a ele (1.8) Jó é um homem integro e reto, temente a Deus e que se devia do mal (1.8), mas essas não são as únicas virtudes de Jó, vejamos:
Ele era conselheiro (4.2-4)
Respeitava os votos matrimoniais (31.1)
Era justo com seus servos (31.13)
Socorria o pobre e a viúva (31.16)
Repartia o pão com o faminto (31.17)
Vestia os descamisados (31.19)
Era advogado dos injustiçados (31.21)
Não era avarento (31.24)
Não era incessível com a dor do próximo (31.29)
Não era maldizente (31.30)
Realizava obras de caridade (31.31)
Era hospitaleiro (31.32)
Era exemplar, não ocultava o pecado, era irrepreensível (31.33)
Era bom pagador, era honesto (31.39)
É difícil compreender o porquê da provação com uma lista dessas.
Assim como o fogo revela primeiro a impureza para depois mostrar o brilho do ouro, assim a provação vai revelar onde Jó precisava melhorar para depois mostrar seu grande valor.
O livro de Jó revela uma teologia ancestral primitiva. A visita dos amigos de Jó é extremamente reveladora. Seus amigos ao invés de demonstrarem atos de bondade, aproveitaram o momento para fazer acusações usando a “Teologia ancestral primitiva” que é baseada no mérito. Essa “Teologia” apresenta Deus como um ser punitivo e vingativo, e que favorece o penitente arrependido. Aqui recebemos mais uma lição: “As pessoas dão o que elas têm”. Muitos são teólogos teóricos e vazios, desprovidos de misericórdia e amor. O amor é a marca da igreja de Cristo.
A “Teologia ancestral” é a base condutora e formadora de comunidades primitivas. Os fenômenos, a ventura ou desventura é respondida com base nesta teologia (27.1-23). Os amigos de Jó fazem seu julgamento a respeito de Jó baseado nesta teologia. Eles esperam que Jó confesse a sua culpa, pois segundo esta teologia o justo não passa por desventuras. Jó não faz isso, ele está convicto de sua inocência. Jó não tem medo de nada, a sua conduta ilibada lhe dá segurança (4.6/6.21-30) Ele chega a fazer uma afirmação de confiança: “Ao meu juiz eu pediria misericórdia” (9.15) e mais: “a minha testemunha está no céu, e, nas alturas, quem advoga a minha causa” (16.19)
As palavras de Jó mostram força, convicção mesmo diante da adversidade, da acusação. Quando a sua mulher lhe sugere perder a integridade amaldiçoando Deus ele responde: “Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos o mal?” (1.9,10) Que força, que coragem! Jó é uma fortaleza.
Algo muda de repente. Jó revela medo em um suspiro (3.25) “Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece”.
Jó possuía medo de perder algo. O que seria esse algo?
Perder os bens?
Não era, pois quando perdeu não reclamou.
Perder os filhos?
Por mais doloroso que poderia ter sido não acredito que tenha sido, pois não reclamou e nem amaldiçoou por isso.
Perder a saúde?
Isso foi terrível também, mas não era esse o medo de Jó.
Jó começa a sentir o peso da dor da provação porque não encontrava respostas (3.23) A falta de conhecimento, o porquê parece que está sendo negado a ele. Este é o momento que o fogo da provação começa a fazer efeito.
Jó era conselheiro, suas palavras ajudaram a muitos, mas agora estas lhe faltam (4.2-4) Quando gozamos de benefícios, é mais fácil aconselhar, pois baseamos nossa segurança nas nossas experiências e naquilo que possuímos (4.5)
Havia pontos na vida de Jó que precisavam de um retoque, de um reparo, de uma limpeza.
Para o diabo a fidelidade de Jó era puramente interesseira; para Deus o melhor homem poderia se tornar em alguém melhor ainda.
Jó precisava de uma experiência que o fizesse conhecer a si mesmo. Mais uma lição neste livro. “Só possuiremos conhecimentos de nós mesmos quando formos testados ao extremo”. Nosso limite só quem conhece é Deus. Nem mesmo o diabo conhece, e nem nós mesmos conhecemos. O diabo pensava que Jó iria blasfemar, Jó pensava que não iria suportar. Deus sabia, Deus conhece nosso limite.
O medo de Jó:
Jó possuía medo de perder a reputação. A bíblia vai provar isso. Se não, vejamos:
Os amigos de Jó o acusam de estar errado, é aqui que percebemos mais uma dica do texto. Elifaz, Bildade e Zofar faziam parte do plano de Deus. São estes que passam a acusar Jó. As acusações mesmo que injustas, pois Jó não está em pecado, mas elas fazem parte do processo.
Estes três amigos de Jó tem a missão de tocar na reputação de Jó. Todos os eventos estão diretamente ligados: A conversa de Deus com o diabo, a provação, a visita dos três fazendo acusações. Jó neste momento está no fogo da provação, e a sujeira começa a aparecer.
Jó se justifica. Após fazer reclamações, ele se justifica por estar sofrendo (6.2,3)
O homem confiante dá lugar ao sem esperança (6.13)
Jó faz uma declaração que chama atenção:
“A minha honra se renovará em mim, e o meu arco se reforçará na minha mão. Os que me ouviam esperavam o meu conselho e guardavam silêncio para ouvi-lo. Havendo eu falado, não replicavam; as minhas palavras caiam sobre eles como orvalho. Esperavam-me como a chuva, abriam a boca como à chuva de primavera. Sorria-me para eles quando não tinham confiança; e a luz do meu rosto não desprezavam. Eu lhes escolhia o caminho, assentava-me como chefe e habitava como rei entre as suas tropas, como quem consola os que pranteiam” (29.20-25)
Seria isso um excesso, ou uma simples demonstração de seu papel?
Não há nada de errado em buscar ser irrepreensível (27.5,6), aliás, esta deve ser nossa motivação (4.6/Ef 1.4) Não há nada de errado em buscar o aperfeiçoamento, e ter a certeza de que se é útil. Porém, quando eu começo a dar mais valor no que eu tenho do que naquele que me dá, então, ai há um problema. Eu aprendo uma lição: “o dom não pode ser mais valorizado que o doador”.
Jó faz acusações contra Deus.
Ele se justifica e acusa Deus.
Ele confiava tanto em sua integridade que se apresenta diante de Deus como um advogado de defesa e solicita a vista dos autos do  processo para poder preparar a sua defesa (10.2) “Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo”. Que acusações têm contra mim?
Ele acusa Deus de querer fazê-lo perder a honra (19.9) “Da minha honra me despojou e tirou-me da cabeça a coroa”.
(19.6) “Sabei agora que Deus é que me oprimiu, e com a sua rede me cercou”.
Assim como o fogo revela a impureza e depois o brilho do ouro, assim a provação está revelando Jó.
A bíblia revela que Jó precisava passar por esse processo. Deus se dirige a Jó e diz: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento?” (38.2)
(40.8) “Acaso, anularás tu, de fato o meu juízo? Ou me condenarás para te justificares?”.
Jó faz acusações contra Deus:
Jó acusou Deus de injusto (27.2)
Descontrolado na ira (9.13)
Insensível (9.16)
Não faz distinção entre culpado e inocente (9.22)
Sarcástico (9.23,24)
Arquiteto do sofrimento (10.13)
Culpado de Jó ser abandonado (19.13-19)
Predador e torturador (9.11-13/23.13-16)
Alegra-se com o sofrimento (10.3)
Todas estas acusações foram proferidas por Jó. Deus não está ali para condenar, ele está ali para libertar Jó em primeiro lugar da cegueira, da ignorância, da falsa teologia. Jó era tirano de si mesmo, sua justiça ao invés de ser demonstração de piedade e devoção, era, na verdade opressora. Deus fala e Jó cai prostrado e se rende: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos podem ser frustrado” (42.1)
“Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; cousas maravilhosas demais para mim, cousas que eu não conhecia” (42.3)
Como não sabia?
Jó havia afirmado: “Ensinai-me, e eu me calarei” (6.24)
Jó estava errado tanto quanto seus amigos a respeito de Deus.
Seu conhecimento sobre Deus era baseado em uma teologia puramente humana que por meio de raciocínio lógico tentava dar explicações sobre certos fenômenos naturais e sociais. (21.22-33) Esse tipo de Teologia não tem respostas para tudo, desconhece os desígnios de Deus. Teologias regionalizadas não passam de lucubrações. Deus tem propósitos que os homens desconhecem, pois seus atos são elevadíssimos. Ele destina a verdadeira sabedoria para seus servos, para aqueles que humildemente buscam em sua palavra com o propósito de entender e melhor servir.
Observe algo no texto em que Deus diz onde estava o erro de Jó: “Quem é esse que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” (Jó 38.2) “Conselho”: um dos significados é: Parecer que se emite para que outrem o observe. Outro significado é: Ensinamento, critério, juízo. Tudo isso tem a ver com propósito e forma de agir, e Jó está questionando essa forma de agir. Jó está questionando Deus.
Não o interprete de forma errada, pois Jó usou de palavras sem entendimento no fervor da provação e motivado pela dor do sofrimento (6.2,3) “Oh! Se a minha queixa de fato se pesasse, e contra ela, numa balança, se pusesse a minha miséria, esta, na verdade, pesaria mais que a areia dos mares; por isso que minhas palavras foram precipitadas”.
Jó reconhece que o conhecimento que ele possuía de Deus era baseado na ótica de outros, mas agora que ele avançou ele afirma: “Meus olhos te veem” (42.5)
Jó está arrependido: “Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42.6)
Deus lhe perdoa, e lhe restitui tudo.
O que Jó ganhou?
Ele ganhou algo mais valioso que o ouro, ele ganhou entendimento real sobre Deus. Jó passou a conhecer a Deus como de fato ele é. Ele entendeu os desígnios de Deus.
Não pense que foi como um passe de mágica que os bens surgiram como muitos gostam de dizer. Veja o texto, a bíblia explica como se deu o processo da restituição: “Então, vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram de todo mal que o Senhor lhe havia enviado; CADA UM LHE DEU DINHEIRO E UM ANEL DE OURO” (42.11) “assim abençoou o Senhor o ultimo estado de Jó mais do que o primeiro” (42.12)
Foi assim que Deus restituiu a Jó. Quem sabe (O texto me permite) Jó recebeu de seus amigos e parentes apenas o necessário para recomeçar, e Deus lhe abençoava em todos os seus negócios, e a cada dia o Senhor ia lhe acrescentando, pois o texto finaliza assim: “assim abençoou o Senhor o ultimo estado de Jó mais do que o primeiro”.
Aprendemos que, quando os recursos desaparecem e quando a mão amiga falta, não devemos nos desesperar, pois o socorro de Deus virá na hora certa. Amém?
Na fé, no aprendizado e na esperança.
(R.Silva)


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