sábado, 28 de setembro de 2024


"E disse-lhes: Está Escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covis de ladrões" (Mateus 21.13)

Introdução:

Certa vez perguntaram para Dwight L. Moody qual era o maior problema da obra, ele respondeu: O maior problema da obra são os obreiros.

Há muito, desde que li pela primeira vez a esse texto de Mateus fiquei a me perguntar do porque dessa atitude de Jesus, aliás, não me faltou entendimento sobre o tema, uma vez que o texto é por si só auto explicativo. Jesus expulsou os cambistas e virou as mesas e os expeliu porque estavam fazendo comércio na casa de Deus e isso não era permitido correto? Sim, mas isso é só a metade do problema em questão

Vamos de uma visão panorâmica do contexto para entendermos com exatidão o texto.

Jesus está entrando em Jerusalém e é recebido como o Rei Messias por uma multidão que estende ramos de árvores e lhe exalta exclamando: "Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!" (Mateus 21.8,9) 

Jesus já havia entrando tantas vezes em Jerusalém, já havia ali ensinado e curado, a multidão sempre estava dividida em relação a quem ele era, mas aqui sua entrada é diferente e única, ela é profética. Jesus entra na cidade como o Rei Messias conforme os profetas haviam predito (Ver Isaias 62.11 e Zacarias 9.9)

O escritor Lucas nos apresenta um relato mais detalhado ao informar que enquanto a multidão clamava em exaltação a Jesus, os líderes religiosos tentaram persuadir a Jesus para que este fizesse calar o povo. Jesus rebate e diz: "se estes se calarem, as pedras clamarão" (Lucas 19.38-40)

Diante dos fatos, as ações seguintes de Jesus não poderiam ser diferentes, pois, ele como Rei e Messias chega para por ordem em tudo.

A tentativa dos lideres em fazer calar o povo, demonstrava exatamente a negativa deles em relação a Jesus. Estes homens que conforme nos diz a bíblia deveriam ser luz e mestres para o povo, guiando-os na palavra e na pureza. Mas, a realidade é outra.

Na primeira parte da introdução, compartilhei uma fala sobre qual o problema da obra segundo Moody. Consigo entender o que ele disse que "o maior problema da obra são os obreiros". A obra é de Deus, ela é perfeita em seu propósito, em seu meio e seu fim, porém, ela é feita por homens, estes sim são falhos. Eis a razão dos problemas. No texto de Mateus vemos exatamente isso, Jesus expulsa os vendedores da casa de Deus (A obra perfeita), coisa essa que nenhum oficial do templo (obreiros imperfeitos) haviam se importado antes. Dito isso seguiremos para o nosso primeiro tópico:

  • 1) Os oficiais do Templo

Eram compostos por três categorias:
Sumo sacerdotes, sacerdotes e os levitas, todos pertencentes a família de Levi, mas com a diferença de serem os sacerdotes procedentes da família de Arão, o sumo sacerdote, ao menos no princípio, era da linhagem primogênita dessa família.

  • 2) Responsabilidades do oficiais do Templo
  • Sumo sacerdote

Sumo sacerdote, este era o que possuía a maior responsabilidade. O sumo Sacerdote era o único permitido a entrar no lugar santíssimo, e isso ele fazia uma vez no ano, não poderia jamais entrar de mãos vazias. Ali, ele ele ofereceria oferta de expiação de pecados em favor de si mesmo e de toda a congregação de Israel (Levítico 16). O sumo sacerdote era também presidente do sinédrio o tribunal judaico, ele eram tratado questões civis e principalmente questões religiosas.

  • Sacerdotes

Os sacerdotes foram distribuídos em vinte e quatro classes, essa organização teve seu inicio no reinado de Davi (1 Crônicas 24.1-19) 

Era de responsabilidade dos sacerdotes queimar o incenso no altar do incenso durante o período da manhã e da tarde, imolar a sacrificar as ofertas sobre o altar do holocausto e derramar o sangue ao pé do mesmo altar.

  • Levitas
Os levitas eram os servidores dos sacerdotes, eram eles que ajudavam no lugar santo e no altar, era também responsáveis pelos cânticos e também serviam como guardas do templo.

  • 3) A lei de Deus e a lei dos homens
  • A lei de Deus

Anotações:

"No principio, Deus pronunciou as palavras que deram origem a vida. Agora Deus pronuncia as palavras que orientam o viver" (Manual Bíblico SBB Pag. 168)

Os dez mandamentos. É assim que o conhecemos. Eles são de fato um resumo de toda a lei que está descrita no pentateuco que são os cinco primeiros livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) No pentateuco é onde encontramos de forma detalhada, as leis, os conselhos, as ordenanças acerca de todos os aspectos da vida humana, sejam elas questões civis ou religiosas. 

A lei para o povo judeu, não era apenas um conjunto de regras, para eles tinha a ver com a própria existência, a lei faz parte do pacto que Deus fez com esse povo, era condicional o fato de obedecerem a lei se quisessem possuir a terra, serem abençoados, prósperos e frutíferos (ver Deuteronômio 28)

O povo judeu aprendeu a duras penas que não deveriam deixar de observar, pois isso implicaria e severos juízos. Eis aqui a grande diferença em relação a lei dos homens e a lei de Deus. A lei de Deus é perfeita e justa, ela realmente se aplica a todos independente da classe ou posição. Diante de Deus todos realmente são iguais. Não existe favorecimento ou camaradagem para livrar o culpado.

  • A lei dos homens
A lei é um conjunto de normas jurídicas que estabelecem regras de caráter obrigatório para a sociedade, criada por autoridade legisladoras. No papel, todos são iguais perante a lei, na prática não é bem assim. Qual a razão disso? A corrupção moral dos homem os impede de agirem com justiça, imparcialidade e isonomia.
As leis dos homens possuem vários dispositivos que acabam por favorecer os poderosos. Esses dispositivos chamamos vulgarmente de "brechas". Mesmo que sejam legais, pois estão ali inseridos na lei, para a maioria da população isso soa mas como dispositivos de impunidade. O que é pior, quando vemos aumentar o número de integrantes da justiça que não interpretam mas a lei na sua literalidade e sim na sua subjetividade. Eis um grande perigo, pois distorcem a lei de acordo com o paciente. 
Essa distorção, mas uma vez afirmo que é por consequência da degradação moral do homem que se corrompe. Essa corrupção moral atinge a todas as classes, até mesmo a classe religiosa, essa que deveria ser a guardiã que tudo que é moral e ético. Mateus em seu evangelho demonstra isso no episódio em que Jesus expulsa os cambistas.
Precisamos entender o contexto para entender o texto.

Como disse anteriormente, a lei de Deus é perfeita e justa, nela não há falhas, porém, o homem que se corrompe acaba por distorcer a própria lei de Deus. Muitas vezes essas distorções são motivadas por um zelo extremo que é mais que um fanatismo louco, ou, a distorção se dá mesmo por leviandade. Em Deuteronômio 14.24-26 A lei descrita visava facilitar a vida do ofertante que morava distante do templo e que deveria ir anualmente a Jerusalém para oferecer suas ofertas ao Senhor. Desta forma, o que eles fizeram foi usar a lei em benefício próprio e lucrar com isso. Se é permitido vender o animal do sacrifício e trocar por moeda, então isso será interessante para nós, poderemos estabelecer um comércio em torno disso e assim obtermos lucro.

Será que eram apenas os cambistas que lucravam com esse comércio? O templo e suas dependências não eram de responsabilidade de seus oficiais? O sumo sacerdote e os sacerdotes eram as autoridades constituídas para administrar o templo. Estes possuíam até mesmo uma guarda que estava a sua disposição se necessário fosse tirariam de suas dependências todos os cambistas, pois, na verdade todo sentido espiritual do sacrifício estava se perdendo com todo aquele comércio.
Fica a grande pergunta: Porque eles não impediram todo aquele comércio?

Isso nos leva ao tópico seguinte.

  • 4) Relativismo, um mal maior

O maior problema está no relativismo. O relativismo é como uma bebida que embriaga e te faz perder o senso de discernimento, a distinção do certo e errado. O relativismo cobre a moral e a ética, o relativismo não tem parte com o que é santo pois para ele, tudo é normal e aceitável, o relativismo impede a diferenciação entre o santo e o profano (Levítico 10.9,10)

Na bíblia encontramos inúmeros casos de pessoas que relativizaram e não distinguiram o santo do profano. Podemos começar por Sansão que era nazireu desde o seu nascimento, mas não via problema em beber vinho, ou se aproximar de cadáver. Para Sansão, tudo era normal, sem problemas, tudo era relativo (ver Números 6.1-21)

Podemos citar também Davi, ele relativizou quando viu Bate Seba, desejou a mulher do soldado Urias, arquitetou um plano que o soldado fosse morto e acabou ficando com a mulher do falecido (ver 2 Samuel 11)

Tudo tem um começo, um inicio. O mal que tão de perto nos rodeia e que é voraz precisa ser combatido ao primeiro sinal de suas ações.

Estes homens deveriam ser como um farol, como guia dos cegos e instruidores dos néscios, estavam mais cegos do que qualquer um outro.

Quando foi que tudo isso começou, sim, é importante saber. A bíblia diz: "Lembra-te onde caístes" (Apocalipse 2.5) A igreja de Éfeso foi convidada a lembrar a origem de seu erro. O filho pródigo só foi capaz de arrepender-se e voltar a casa do Pai quando reconheceu o seu erro, antes disso ele relativizou as coisas, para o filho pródigo estar na casa do Pai e estar fora da casa eram a mesma coisa, então estar fora não era um problema (Lucas 15) Todo mal, todo erro tem um ponto de partida. Tudo tem um início. As vezes começa com algo que parece simples e inofensivo. Grandes erros estão nas coisas mínimas. Sabe aquela desculpa que muitos de nós usamos: Eu sei que é errado mas Deus me entende! ou, eu sei que não pode, mas é só dessa vez!, outra: Eu sei que é errado mas é por uma causa nobre!

Não esqueça: Errado é errado!

Estes líderes religiosos "cegos" não enxergavam a impureza que se alastrava para dentro do templo. Eram extremamente exigentes com a guarda de suas tradições que chegavam a ponto de invalidarem a lei (Mateus 15.3), ou seja, a tornavam inútil no sentido de perder o seu propósito. Dito isso, esses que deveriam ser os guardiões da lei que expressa a santidade de Deus e que demonstra tanto a impureza e falibilidade humana, e que mostra a gravidade do pecado a ponto de haver a exigência de derramamento de sangue, se isso não há expiação de pecados (Levítico 17.11) Estes eram os responsáveis em ensinar os homens sobre as suas carências de Deus, sobre a santidade de Deus e sobre a santidade do lugar, e que este deveria ser tratado com zelo e respeito. 

Onde estavam os fariseus, os levitas, os doutores da lei e todos os piedosos religiosos? Por que eles não se importavam com todo aquele comércio no templo? Estes que eram tão exigentes com as tradições e que criavam tantas regras não conseguiam enxergar o que estava diante de seus olhos?
Na verdade, para extremistas religiosos a pureza da fé não existe, e sim sua regras é que são válidas e aquilo que eles mesmos estabelecem como permitido, não respeitam de fato nem mesmo àquele em quem eles dizem crer e servir.

Jesus não é relativista, não é extremista, seus discípulos não podem ser. 

  • 5) Postura de Cristo, exemplo para seus seguidores.

Jesus não se omitiu diante daquela situação, porque?

Aliás, além dessa pergunta existe uma outra. Segundo o relato bíblico havia um comércio estabelecido durante as festas. Quantas vezes Jesus havia entrado no templo e visto todo esse comércio? Bom, de acordo com a ideia que temos de que Jesus viveu trinta e três anos, então é de se supor que pelo menos ele tenha visto no mínimo umas vinte vezes esses cambistas. Porque não fez nada antes?

A resposta é tão simples e obvia que parece até uma defesa fraca, mas não é. Pense nessa atitude de Jesus um ano antes desse evento. Teria o mesmo peso? Causaria a mesma reação? Teria o mesmo entendimento?

A resposta é não. Jesus não veio a este mundo fazer a sua vontade, tudo o que fazia e falava era sempre segundo a vontade e ordem de Deus (João 12.49)) Após esse ato de purificar o templo seus discípulos entenderam o que estava descrito nas escrituras "O zelo da tua casa me consome" (João 2.17/Salmo 69.9)

Jesus ao entrar em Jerusalém como Rei e Messias tinha todo o direito de colocar as coisas em ordem, purificar a casa que fora consagrada para ser casa de oração (Mateus 21.13) pois aquele era tanto o santuário de Deus como o lugar da congregação de seu povo, e este deveria ser visto por todos os povos como exemplo de fé e de modelo de servidão a Deus.

Nós, como discípulos de Jesus, não podemos jamais e em hipótese alguma permitir que o relativismos tome conta de nossas vidas a ponto de não enxergarmos mais a diferença entre o que o santo e o que é profano.

Deus é santo, nos como povo de Deus devemos ser santos também e a casa de Deus, o templo feito por mãos humanas que é o lugar de nossa congregação deve ser ocupado u usado com respeito e zelo, pois, agindo assim glorificamos e honramos a Deus.


Na fé, na esperança e no zelo
R.Silva

Que Deus em Cristo abençoe a todos.



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